Page 76 - Revista Salesiano
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— Ricardo Rodríguez está aqui? — Questionei a funcionária, a qual não revelando um homem alto com uma bandeja enorme cheia de cupcakes.
cheguei a ver com tanta frequência por ali, nem ao menos sabendo seu Ele parecia confuso, olhando para mim e para a irmã.
nome.
— Esse é o policial que te ligou, Zoe? — Ricardo tinha uma voz suave,
— Tá na cozinha. — Ela não chegava a fazer contato visual constante, apesar de ser grave. Ele caminhou calmamente até a vitrine ao lado do
prestando atenção nos outros clientes presentes e na entrada. — O que balcão, colocando os cupcakes para exposição.
quer com ele? — Não sei e não quero saber, você não vai de qualquer jeito. — Zoe me
olhou em ameaça, indo ajudar no posicionamento dos bolinhos.
— Preciso conversar com ele. — Puxei o distintivo da carteira, mostran- — Bem, se precisar eu vou ter que ir, Zo.
do a ela. A reação não foi exatamente a que eu imaginava.
Juntos, arrumaram todos os doces rapidamente, dando um soquinho as-
— Vocês não vão cansar dele, né? — Sua voz sentou de tom repentina- sim que terminaram, me ignorando completamente. Ricardo pegou um
mente, combinando com sua expressão agora irritada. — Devem ter mais daqueles cupcakes e o estendeu para mim, por mais tentado que estives-
suspeitos por aí, não tem motivo pra virem aqui mais de uma vez. se, tive que negar.
Os clientes, que antes se entretiam com conversas paralelas e seus lan- — Obrigado, mas acabei de sair de uma cafeteria.
ches, agora pareciam interessados na nossa conversa, sentindo os olhares — Tudo bem. — O mais alto tirou o avental, dobrou e o colocou na mesa
diversos em minhas costas. Respirei fundo, guardando o distintivo e le- ao lado da porta, saindo de trás do balcão em seguida. — Enfim, boa tar-
vantando a mão até o ombro, na tentativa de acalmá-la. de, senhor policial. Desculpe pelo contratempo com Zoe, ela não gosta
muito de vocês.
— Não vão ser muitas perguntas, prometo. — Pensei por um momento, — Notei.
olhando para a mulher, confuso. — Já vieram interrogá-lo?
Atrás dele, a mulher continuava me ameaçando com o olhar.
— Não, mas recebi muitas e muitas ligações irritantes da delegacia e já — Vamos agora?
disse que ele não vai pra lá.
O barulho de um carro conhecido chegou aos meus ouvidos.
— Isso não é escolha sua. — Podemos conversar por aqui.
— Meu irmão não fez nada! Logo depois, o sino da porta tocou atrás de mim.
— Oh, certo. Quer ir para-
— Precisamos saber o quanto ele- — Ricardo Rodríguez, você está preso. — A voz autoritária de Huening
se aproximava, trazendo consigo o tintilar das algemas em suas mãos. —
— Já disse que ele não vai! E Guillermo Morales, você vem comigo.
Ela bateu a mão com força no balcão, fazendo um baque alto que chegou
a ecoar pela confeitaria. Ao fundo, consegui escutar um “iiiih…” vindo de
algum dos clientes. Naquele momento, a porta de trás do balcão se abriu,